Pack Intellectualism
Um artigo sobre Hannah Arendt faz-me pensar sobre os jornais e os intelectuais num país que é um deserto de qualidade - o último ensaio que gostei de ler sobre Portugal foi o Labirinto da Saudade e tive de passar dois dias em Londres para, como bom provinciano, chegar à conclusão que, por aqui, não há um único jornal ou revista de jeito. E se é verdade que os problemas de falta de originalidade, cultura, estilo, honestidade e o que mais for já estão bem diagnosticados nos jornais, não é menos certo que a nossa classe intelectual (corporativa como é) tem passado pelos pingos da chuva. Esta, e não vou ser exaustivo ou mesmo injusto (há excepções), é a classe que vende o seu trabalho em cada quiosque disponível; a classe subsídiodependente que se repete infinitamente, que polemiza ao sabor da conveniência política e cujo o mundo acaba em Badajoz; a classe que parasita o sistema educativo com as suas aulas repartidas entre a classe privada e a pública; a classe que se louva eternamente na perspectiva de uma eternidade que só as amizades solidificadas podem prometer e fazer lucrar - como lembrava muito bem Pacheco Pereira acerca dos jonais, o mercado intelectual também é curto. Intelectuais que fazem tudo menos aquilo que é suposto: pensar.
Voltando ao artigo sobre Arendt: "Pensar é o hábito de examinar o que quer que nos passe à frente ou chame a atenção num diálogo interior, numa espécie de conversa com nós mesmos, em que qualquer reacção mental é sujeita a criticismo e no qual a própria crítica interior é também obrigada a avaliar-se". Num país em que pensar, nestes moldes, parece ser uma prática cada vez mais ocasional, o veneno de Arendt e do autor deste artigo, Jeremy Waldron, contra o pack intellectualism parece melhor administrado do que nunca: “Esta nova classe de intelectuais que, como literatos e burocratas, académicos e cientistas e não menos como críticos e criadores de entretenimento, provou, mais do que uma vez em tempos recentes, que é cada vez mais receptiva ao que quer que pareça ser a opinião pública e menos capaz de julgar por si própria do que qualquer outro grupo social” . “Clichés e jargões, frases e analogias para a ocasião, aderência dogmática a corpos de teoria já estabelecidos, e petrificação de ideias são os instrumentos desenhados para aliviar a mente do peso do pensamento enquanto se mantém a aparência de uma árdua lavoura intelectual”. Uma carapuça à medida de uma classe. Ou quase toda (não generalizemos) .
Voltando ao artigo sobre Arendt: "Pensar é o hábito de examinar o que quer que nos passe à frente ou chame a atenção num diálogo interior, numa espécie de conversa com nós mesmos, em que qualquer reacção mental é sujeita a criticismo e no qual a própria crítica interior é também obrigada a avaliar-se". Num país em que pensar, nestes moldes, parece ser uma prática cada vez mais ocasional, o veneno de Arendt e do autor deste artigo, Jeremy Waldron, contra o pack intellectualism parece melhor administrado do que nunca: “Esta nova classe de intelectuais que, como literatos e burocratas, académicos e cientistas e não menos como críticos e criadores de entretenimento, provou, mais do que uma vez em tempos recentes, que é cada vez mais receptiva ao que quer que pareça ser a opinião pública e menos capaz de julgar por si própria do que qualquer outro grupo social” . “Clichés e jargões, frases e analogias para a ocasião, aderência dogmática a corpos de teoria já estabelecidos, e petrificação de ideias são os instrumentos desenhados para aliviar a mente do peso do pensamento enquanto se mantém a aparência de uma árdua lavoura intelectual”. Uma carapuça à medida de uma classe. Ou quase toda (não generalizemos) .
1 Comments:
O Labirinto da Saudade é magnífico, concordo Infelizmente também concordo com o resto.
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