Algés (no dia do livro)
Aqui em Algés tenho um mapa e uma data de sacos de plástico cheios de jornais. Tenho tacos de golf, quadros horríveis e compromissos que me deixaram em herança. Tenho um armário e uns quantos dossiers (o Almeida Santos é que dizia que dossiers há para todos os gostos ou uma coisa assim parecida); tenho vista para os salgueiros, o mar e a tenda do circo. Aqui em Algés há de tudo: assessores e secretárias, administrativos e motoristas, uma máquina de café e outra de despachos. Temos uma bola de futebol e a fotografia de uma glória do passado. Temos o Joaquim no visor e o Joaquim a comer gelados. Tenho, eu Francisco, o canudo da Universidade Autónoma e resmas de folhas brancas marca Discovery. Tenho um cartão de visita a dizer que sou da Presidência do Conselho de Ministros; uma caixa de clips e um filofax com o número dos dias a vermelho; tenho a televisão ligada na SportTV e umas gravatas que uso de quando em quando. Tenho um radio leitor de cassetes e um ar condicionado da Daikin. Tenho cinza por todo o lado e também pelo cinzeiro. Tenho um artista célebre na sala de espera e um scanner topo de gama. Só não tenho livros. E fazem-me falta. Talvez seja melhor ir ali ao Viegas "pra" matar saudades. E, se não for, ele que saiba que estou lá na mesma.
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