sexta-feira, março 04, 2005

O Voto

Defendo há anos que um jornalista da área de política que faça a cobertura de uma campanha eleitoral se deve abster de votar nessa campanha eleitoral, em benefício do leitor e do cumprimento escrupuloso dos deveres de isenção e independência. Todos temos direitos mas também deveres e a aceitação de determinada tarefa, qualquer que seja, implica a abdicação, ainda que temporária, de certos direitos.
Hoje de manhã comprei o novo Livro de Estilo do Público (que se saúda). E li (não repito as palavras do Público onde são repetidas em baixo, por considerar que podem ser aplicadas genericamente):

56. O jornalista deve abster-se de tomadas de posição no espaço público não jornalístico de carácter político (...)

57. Nestas matérias haverá que ponderar entre o incontornável direito do jornalista, enquanto cidadão, de exprimir publicamente as suas opções e de tomar parte em questões controversas e as limitações óbvias que dessa tomada de posição decorrem para a possibilidade de tal jornalista cobrir acontecimentos com elas relacionados. Uma das soluções possíveis para ultrapassar situações de deveres e direitos conflituantes é a deslocação do jornalista para outra área do jornal.


De cada vez que o assunto vem à baila a reacção é sempre a mesma. Negativa e corporativa. Ai de quem me pise os calos. Mas, como, na minha opinião, mostra o Livro de Estilo do Público, este tema deve ser tratado. Sem tabus, com abertura e civilidade, com a maturidade democrática que 30 anos de vida em liberdade permitem.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Por essa ordem de ideias, deves acabar já com este blog.
Há certos preconceitos que eu não consigo perceber. Como o de o jornalismo ser uma missão. Não é. É uma profissão. Uma missão pode -e deve ser- fazer bom jornalismo. Mas isso deve ser assim em qualquer profissão. Acho eu. B.B.

6:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O fundamental é não ser fundamentalista. Os jornalistas de economia não devem ter nem um euro na carteira? O voto, nos tempos que correm, não deve valer mais que essa moedinha...
Com um abraço do
Madaíl

10:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Martim, votar não é propriamente uma tomada de posição no espaço público. De resto, não vou entrar na discussão, mas já entrando..., duvido que fiques mais isento por não votares. Mas se o ritual te conforta... Beijinhos.

6:39 da tarde  

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