quinta-feira, novembro 23, 2006

Virtudes privadas, vícios públicos

Tudo o que eu detesto no Manuel Alegre político, aprecio no Manuel Alegre escritor. Uma cultura clássica e sólida, o amor à caça, touros, futebol, Académica (e, vá lá, ao Benfica), o patriotismo, ser neto de Mário Duarte, esquerdista, lírico e genuíno lutador antifascista (não sei se esta última opinião é unânime mas é a minha) são qualidades que quando transpostas para a arena política (ou pública, se preferirem) não passam de demagogia balofa ou pura pornografia intimista. E se estes exemplos me comprovam que o que eu não gosto em Alegre é precisamente aquilo que gosto em Alegre, o verdadeiro problema da transformação das virtudes privadas em vícios públicos é que, depois da campanha presidencial, quando olhava, não o conseguia ver como mais do que o pior exemplo possível da corrente que outro amigo baptizou de "esquerda fadista". Tudo isto a propósito do lançamento de um livrito que reúne as crónicas que Alegre escreveu para o Público e o El país durante o Euro 2004 e o Euro 2006. O mínimo que se pode dizer sobre o talento literário-futebolístico de Alegre é que quase me reconciliei com o Jekill do Mr Hyde.