sexta-feira, setembro 01, 2006

Meio-campista*

"No livro "Onze em Campo.... de Cada Vez", uma colectânea de textos sobre futebol de grandes escritores brasileiros, Rubem Fonseca conta a história de um jogador em princípio de carreira que aprende a olhar o cuspo dos jogadores: "Fiquei de olho no Gérson. Jogador de futebol vive cuspindo. Ele passou perto, deu um daqueles passes de trinta metros e cuspiu. Viu? Limpo, transparente, cristalino". A explicação para o cuspo de Gérson vem mais à frente: "Eles treinavam todos os dias e não viam mulher, nem as próprias; não tem nada de Rose não, Jairzinho não bota o pé na Mangueira, o Paulo César não passa na porta do Lebatô, os caras estão levando o negócio a sério. Mulher, nem mãe". Já Tostão é apontado no texto como estando fora de forma: "Vê o cuspe do Tostão, ele está meio fodido, o troço no olho, parou seis meses, vê só o cuspe dele. O Tostão passou perto e cuspiu uma bolota de goma branca. ´Parece "marchemelo`, dise Braginha.
Noutro conto do livro, Sérgio Sant´Anna explica porque é que o meio-campista é o jogador mais importante do futebol. "Nosso meia-armador, Jair, é um desses craques (palavra que devia ser pleonasmo para homem de meio-campo) que sabem tudo de futebol e várias vezes estiveram na bica de ir para a selecção. " Este personagem não chegou lá como muitos outros: "Talvez porque tenham vivido numa época de grandes profissionais da posição - como Gérson, Rivelino, Clodoaldo - ou, talvez, quem sabe, por algum motivo mais profundo, como a falta daquela ânsia de vencer. Ou então porque o futebol para eles não é tudo, como no caso do Afonsinho, que sempre andou na noite, misturado com artistas, e acabou virando tema de uma canção de Gilberto Gil, Meio Campo, essa posição que exige um misto de atleta e artista, jogando com as pernas e a inteligência, quase com a alma, se poderia dizer". Explica também Sant' Anna que o melhor meio-campista do Brasil, Ademir da Guia, ganhou – por tratar a bola “como se fosse parte do próprio corpo” - a imortalidade nos versos do grande João Cabral de Melo Neto (que passo a reproduzir, apesar de não constarem do texto original): "Ademir impõe com seu jogo/ o ritmo do chumbo (e o peso)/ da lesma, da câmara lenta/ do homem dentro do pesadelo/Ritmo líquido se infiltrando/ no adversário, grosso, de dentro/ impondo-lhe o que ele deseja/ mandando nele, apodrecendo-o/ Ritmo morno, de andar na areia/ de água doente de alagados/ entorpecendo e então atando/o mais irrequieto adversário."
Carlos Martins, como é que vai ser? Cuspo cristalino ou “marchemelo”? Samba ou poema imortal?"

*Publicado na última Atlântico (uma revista que uns idiotas racistas e extremistas reputam de racista e extremista)

*Espero que um tal de Villalobos não acorde de noite a chamar pela mãezinha (eu tinha aqui mais umas quatro linhas mas decidi retirá-las porque realmente não tinha nada a ver com isso...).

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O menino picou-se com um comentário sobre o pasquim da Helena Matos?
Acha que a folheca não é racista nem extremista?
Acha que uma coisa daquelas é muito democrática e toleranre?
Pois (aguente-se...) não é.
A Atlântico (raio de título) é belicista, anti-pacifista (a comparação dos ant-guerra com o Camberlain é um "must"), racista anti-árabe (até ver SÓ anti-árabe), mais neo-con do que os neo-con originais.
O menino ofendeu-se?
Vai ter dois trabalhos!

10:06 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Um tal de Villalobos? Mas que menino mal educado. Você ainda tem que comer muita papa para chegar aos calcanhares dele.

6:00 da tarde  

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