sexta-feira, abril 21, 2006

Faltas

O que mais me surpreende nesta história, e já a escrevi para o jornal por isso sei do que estou a falar, é a falta de bom senso de todos os envolvidos. Primeiro dos deputados que faltaram (trinta avisaram previamente que não estariam e treze estavam em missões no estrangeiro). Depois, os inenarráveis 75 que se foram embora depois de assinar o ponto. Não só me espanta a falta de bom senso dos deputados como o seu próprio masoquismo: não tenho dúvida nenhuma que a pior coisa que se pode fazer a um deputado é colocá-lo numa lista de faltosos. Os eleitores, não se enganem, pedem contas aos deputados e é por isso que cada vez que aparece um ranking de faltas chovem cartas de justificação em todos os jornais. Por outro lado, espanta-me a falta de inteligência de Jaime Gama. A verdade, digam o que disserem das baldas, é que faltavam apenas quatro deputados na Assembleia da República. Falei pessoalmente com cinco que garantiram que estavam nos seus gabinetes. Ou seja por causa de um corredor de trinta metros, uma campaínha que toca baixinho e uma alteração de última hora do horário das votações (se fosse à hora normal havia quórum) descredibiliza-se todo o parlamento. Gama, não esquecer que no tempo de Mota Amaral a semana santa era mesmo santa, também podia facilmente ter adiado a votação. Não o quis fazer e o pior, como também já escrevi no jornal, é que o bébé foi mesmo com a água do banho. Deputados com uma reputação de assiduidade inatacável passaram a ser vistos como vadios incorrigíveis. Deputados que não põem os pés no parlamento (ou que não abrem a boca durante anos) tornaram-se exemplos a seguir. Com isto tudo só me resta dizer que, felizmente, temos um primeiro-ministro exigente e competente. Que Gama o guarde, é o que eu lhe desejo.