sexta-feira, janeiro 27, 2006

Sharon e a Palestina

Um magnífico perfil de Ariel Sharon na New Yorker. Escrito por um dos melhores jornalistas israelitas, Ari Shavit, o artigo resume "seis anos de conversas" entre os dois. O retrato da vida de Sharon é impressionante, quase uma viagem em que os vários Sharons (que tanto confundem puros de esquerda e de direita) se misturam. Tudo começa no Arik dos Paraquedistas, durante a guerra da Independência. Depois, passamos por Arik do Sinai, o estratega militar que deu a vitória a Israel em 1967; Arik o Terrível que elimina, através do terror, o terrorismo palestiniano; Arik, Rei de Israel, em 1973, que corta o terceiro exército ao atravessar o canal do Suez; Arik, o Povoador, que estabelece mais de 100 colonatos para controlar os palestinianos; Arik, o leproso, que, em 1982, conduz o país a uma guerra desastrosa contra o Líbano e é pessoalmente responsável pelos massacres nos campos de refugiados de Sabra e Shatila. Finalmente, e na mais espantosa reencarnação, aos 77 anos, Arik, "o De Gaulle israelita", ordenando, ele que tinha a alcunha de Bulldozer, o fim de alguns dos mais importantes colonatos israelitas.
Mesmo que este homem, telúrico, que gostava de falar de oliveiras milenares e comer sardinhas portuguesas ao pequeno-almoço, nunca se tenha visto como De Gaulle. Porque como disse a Shavit: "A nossa Argélia é aqui. Não está a centenas de quilómetros. Essa é a diferença. Os franceses podiam fazer um milhão de franceses voltar a França mas neste país não há nenhum lugar para onde ir. There´s nowhere to go". Pelo menos "enquanto os árabes não reconhecerem o direito de existência de um Estado israelita". A votação da Palestina demonstra que continuamos num mapa sem saída.

(actualizado)