Anatomia da errância
No livro a que roubo o título deste post, Bruce Chatwin escreve que o "mundo é nómada nómada". É uma fantástica história de "heróis revolucionários" que nada valem antes de terem "feito uma boa caminhada". Heróis que passaram pela "fase nómada" (Che Guevara); uma "Grande Marcha" (Mao) ou um "exôdo" (Moisés).
O palimpsesto de Chatwin explica ainda que os bébés dos caçadores do Calaári "nunca choram e são dos mais contentes do mundo". Explicação: estão sempre em movimento - as mães levam-nos atados junto aos seios "e são embalados à saciedade pelo passo dela".
Outras pérolas: somos terrestres antes de tudo - "o pobre do Ícaro despenhou-se"; "a coisa melhor é caminhar. Devíamos seguir o poeta chinês Li Po ´nas muitas fadigas da viagem e muitas bifurcações do caminho`"; "Ninguém se torna profeta antes de ser pastor" (Maomé) ou "os sufistas falavam de si próprios como ´viajantes sempre a caminho´(...) O Ideal sufista era caminhar como pedinte ou dançar até atingir um estado de êxtase permanente, ´tornar-se um morto ambulante`, ´alguém que já morreu antes do tempo´". Com Chatwin descobre-se que a palavra xadrez em sânscrito significa "alcançar a outra margem"; que uma bola de futebol pode ser vista como uma "ave migratória" ou que as drogas são "o veículo daqueles que se esqueceram como se caminha (particularmente acertada esta última observação)".
Chatwin cita ainda um Pascal sombrio: "Notre nature est dans le mouvement... La seule chose que nous console de nos miseres est le divertissemente". Epílogo: "Não admira, pois, que uma geração protegida do frio pelo aquecimento central, do calor pelo ar condicionado, transportada em veículos assépticos de uma casa ou hotel para outros similares, sinta a necessidade de viagens do corpo ou do espírito, de excitantes ou tranquilizantes ou das viagens catárquicas do sexo, da música e da dança".
O meu corpo está a pedir praias desertas e aldeias fantasma. Ou então, que embarque, como o preto do Narcisus, para morrer perto da costa.
O palimpsesto de Chatwin explica ainda que os bébés dos caçadores do Calaári "nunca choram e são dos mais contentes do mundo". Explicação: estão sempre em movimento - as mães levam-nos atados junto aos seios "e são embalados à saciedade pelo passo dela".
Outras pérolas: somos terrestres antes de tudo - "o pobre do Ícaro despenhou-se"; "a coisa melhor é caminhar. Devíamos seguir o poeta chinês Li Po ´nas muitas fadigas da viagem e muitas bifurcações do caminho`"; "Ninguém se torna profeta antes de ser pastor" (Maomé) ou "os sufistas falavam de si próprios como ´viajantes sempre a caminho´(...) O Ideal sufista era caminhar como pedinte ou dançar até atingir um estado de êxtase permanente, ´tornar-se um morto ambulante`, ´alguém que já morreu antes do tempo´". Com Chatwin descobre-se que a palavra xadrez em sânscrito significa "alcançar a outra margem"; que uma bola de futebol pode ser vista como uma "ave migratória" ou que as drogas são "o veículo daqueles que se esqueceram como se caminha (particularmente acertada esta última observação)".
Chatwin cita ainda um Pascal sombrio: "Notre nature est dans le mouvement... La seule chose que nous console de nos miseres est le divertissemente". Epílogo: "Não admira, pois, que uma geração protegida do frio pelo aquecimento central, do calor pelo ar condicionado, transportada em veículos assépticos de uma casa ou hotel para outros similares, sinta a necessidade de viagens do corpo ou do espírito, de excitantes ou tranquilizantes ou das viagens catárquicas do sexo, da música e da dança".
O meu corpo está a pedir praias desertas e aldeias fantasma. Ou então, que embarque, como o preto do Narcisus, para morrer perto da costa.
3 Comments:
Surfista, Francisco? Não quererás escrevar SUFISTA?
Se sim, nesse caso, escreve "sufi" e não "sufista".
Tem toda a razão. Que parvoíce!
(deixo a tradução como está no livro -sufista - apesar de me parecer mais acertada a sua sugestão - sufi)
Este post fez-me lembrar a longa corrida do Forrest Gump.
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