Joaquim
Eu gosto muito deste post antigo do Zé Mário Silva. Lembra-me sempre que tenho a responsabilidade de o deixar andar atrás das luzes que quer. Vou comprar-me um letreiro "do not disturb".
A LUZ É UMA COISA QUE SE AGARRA
"Aconteceu há umas semanas.
Estava a Alice em cima da nossa cama, brincando com as rugosidades da manta verde, quando de repente um raio de sol entrou pela janela, filtrado pelas persianas parcialmente descidas. A luz muito dourada (era o fim da tarde) desenhou um rectângulo sobre os almofadões e a Alice, dentro da sombra, olhou para aquele prodígio com o ar fascinado dos bebés diante das primeiras coisas. Muito a medo, chegou-se ao caudal de luz, onde pairavam minúsculas partículas de poeira, e tocou-lhe com os dedos. O espanto adensou-se. Aparentemente sólida, a luz deixava que a pequena mão estendida da Alice a atravessasse. E ela, perplexa, insistia. Os seus dedos abriram-se e fecharam-se várias vezes, quase tão etéreos como as partículas de poeira.
Ao fim de um tempo, como é óbvio, desistiu. Recolheu-se à zona de sombra, olhando desconfiada para aquele bizarro e enganador foco luminoso, cada vez mais ténue com o aproximar da noite. Ficou na sombra, de novo obcecada com as rugosidades da manta verde. E sou capaz de jurar que os seus dedos brilhavam. Como se a luz, afinal, neles tivesse ficado presa."
A LUZ É UMA COISA QUE SE AGARRA
"Aconteceu há umas semanas.
Estava a Alice em cima da nossa cama, brincando com as rugosidades da manta verde, quando de repente um raio de sol entrou pela janela, filtrado pelas persianas parcialmente descidas. A luz muito dourada (era o fim da tarde) desenhou um rectângulo sobre os almofadões e a Alice, dentro da sombra, olhou para aquele prodígio com o ar fascinado dos bebés diante das primeiras coisas. Muito a medo, chegou-se ao caudal de luz, onde pairavam minúsculas partículas de poeira, e tocou-lhe com os dedos. O espanto adensou-se. Aparentemente sólida, a luz deixava que a pequena mão estendida da Alice a atravessasse. E ela, perplexa, insistia. Os seus dedos abriram-se e fecharam-se várias vezes, quase tão etéreos como as partículas de poeira.
Ao fim de um tempo, como é óbvio, desistiu. Recolheu-se à zona de sombra, olhando desconfiada para aquele bizarro e enganador foco luminoso, cada vez mais ténue com o aproximar da noite. Ficou na sombra, de novo obcecada com as rugosidades da manta verde. E sou capaz de jurar que os seus dedos brilhavam. Como se a luz, afinal, neles tivesse ficado presa."
1 Comments:
Lindo!
Como é possível que nenhum dos comentadores habituais não se tenha enternecido com a Alice tentando agarrar a luz?
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