segunda-feira, março 20, 2006

O fim da história (do Iraque)

Francis Fukuyama dá uma entrevista ao Sunday Times sobre o seu próximo livro. Título da entrevista: "Eu fui um Neo-conservador. Eu estava errado". Depois de ter defendido a invasão do Iraque, Fukuyama admite que é um "apóstata" e que se separou dos seus amigos neoconservadores: "Andam a dizer mentiras reles porque entendem que o que defenderam (para o Iraque) não funcionou de todo e estão à espera que qualquer coisa apareça para resolver a situação". O historiador votou Bush em 2000. Pensava que muitos dos seus amigo determinariam a política externa americana e fariam um trabalho muito melhor que Clinton: "É por isso que tudo isto é uma desilusão terrível. Aconteceu exactamente o contrário".
Não acredita no conceito de guerra preventiva - "como Bismarck disse ` é o mesmo que cometer suicídio por ter medo da morte´"- e ainda acredita menos na execução dessa estratégia: "Eu não estou apenas chocado. Estou horrorizado com o nível de incompetência".
Repete uma deliciosa auto-definição dos Kristols, Wolfowitzs e Espadas deste mundo: "Os neo-conservadores são liberais violados pela realidade". E são leninistas. Se definirmos leninismo, como Fukuyama definiu, como a "crença que a história pode ser empurrada pela utilização certeira do poder e da vontade". Este conceito de exportação da democracia é mais vermelho do que se pensa.

(actualizado)

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Antes tarde que nunca...

7:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

«E são leninistas. Se definirmos leninismo, como Fukuyama definiu, como a "crença que a história pode ser empurrada pela utilização certeira do poder e da vontade".»

Ora aí está! É que o J C Espada é um ex-UDP. Muitos neo-liberais, apóstolos de um novo totalitarismo camuflado de "democracia", fizeram a sua iniciação pelo outro lado do espectro político. Por mais que mudem, no fundo nunca deixam de seguir cartilhas totalitárias.

8:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei do ultimo parágrafo. A ler atentamente por Pacheco pereira, José Manuel Fernandes e toda a sua corte.
O Gorjão podia fazer um link (Ah!Ah!Ah!)

8:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"Tough guy" Barroso...the acrobat.

8:20 da manhã  
Blogger MBA said...

Olá Chico.

Há dois livros publicados pelo Fukuyama este mês, um, com o título After the neocons, onde diz isto:
"O rápido, inesperado e largamente pacífico colpaso do comunismo validou o conceito da legitimidade da mudança de regime como uma abordagem legítima das relações internacionais. E esta extraordinária vitória semeou as bases para o erro que muitos neoconservadores fizeram na década seguinte e que teve consequências directas na maneira como lidaram com a guerra ao terrorismo e o Iraque no pós-11 de Setembro" (tradução minha e apressada).

Na minha opinião, está aqui uma das raízes históricas do neoconservadorismo norte-americano: a derrocada soviética por razões aparentemente morais permitiu que a moralidade fosse invocada como o mais importante instrumento para a definição da política externa.

5:47 da tarde  
Blogger MBA said...

E outro, chamado America at the crossroads, onde diz isto:
"As we approach the third anniversary of the onset of the Iraq war, it seems very unlikely that history will judge either the intervention itself or the ideas animating it kindly. (...) Successful pre-emption depends on the ability to predict the future accurately and on good intelligence, which was not forthcoming, while America's perceived unilateralism has isolated it as never before. It is not surprising tha in its second term, the administration has beem distancing itself from these policies and is in the process of rewriting the National Security Strategy document".

Como se vê, são de leitura obrigatória.

5:48 da tarde  

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