O caso do cartoon blasfemo
Tendemos a formar rebanhos com as nossas pulsões mais primárias. Gostamos de opiniões fortes, vincadas, porque não queremos dar parte de fraco e admitir dúvidas, nuances.
Sobre o caso do cartoon blasfemo tenho mais dúvidas que certezas. Prezo a liberdade, mas sei que não há valores absolutos quando vivemos em sociedade. E quantos, daqueles que agora clamam o primado da liberdade, foram dos que, a seguir ao 11 de Setembro, admitiram logo sacrificar umas migalhas da sua liberdade em nome da segurança?
Não sou homem de fé. A religião nada me diz. Mas eu também nada digo à religião. A última coisa que me passaria pela cabeça seria entrar numa lógica de provocação, ou desafio.
Vejo na religião um conjunto mais ou menos irracional de coisas íntimas. E eu coisas íntimas não discuto. Abro uma excepção para a religião católica - é a do meu mundo e, no meu mundo, é mais que religião. É cultura, é sociedade, é política. Comento, por isso, a carcaça institucional da igreja católica, mas evito tocar nas questões da fé.
No caso do cartoon blasfemo, há ainda o contexto. Vivemos tempos de fúria. E acho um disparate anda a deitar gasolina na fogueira. O respeito que tenho pelo vizinho leva-me a que não lhe escarre na porta. Mesmo que eu considere - como considero - que o vizinho, o estádio actual da sua religião, tresandam a selvajaria. Se eu escarrar na porta dele, não apenas me torno igualmente selvagem, como legitimo a sua selvajaria.
Sobre o caso do cartoon blasfemo tenho mais dúvidas que certezas. Prezo a liberdade, mas sei que não há valores absolutos quando vivemos em sociedade. E quantos, daqueles que agora clamam o primado da liberdade, foram dos que, a seguir ao 11 de Setembro, admitiram logo sacrificar umas migalhas da sua liberdade em nome da segurança?
Não sou homem de fé. A religião nada me diz. Mas eu também nada digo à religião. A última coisa que me passaria pela cabeça seria entrar numa lógica de provocação, ou desafio.
Vejo na religião um conjunto mais ou menos irracional de coisas íntimas. E eu coisas íntimas não discuto. Abro uma excepção para a religião católica - é a do meu mundo e, no meu mundo, é mais que religião. É cultura, é sociedade, é política. Comento, por isso, a carcaça institucional da igreja católica, mas evito tocar nas questões da fé.
No caso do cartoon blasfemo, há ainda o contexto. Vivemos tempos de fúria. E acho um disparate anda a deitar gasolina na fogueira. O respeito que tenho pelo vizinho leva-me a que não lhe escarre na porta. Mesmo que eu considere - como considero - que o vizinho, o estádio actual da sua religião, tresandam a selvajaria. Se eu escarrar na porta dele, não apenas me torno igualmente selvagem, como legitimo a sua selvajaria.
12 Comments:
A chatice é que os primeiros a lixarem-se perante a passividade são os tipos que não têm religião... Não há campos neutros. Ser neutro em termos religiosos, é estar contra todos os que têm religião. Historicamente eles têm tratado de recordar isso a quem se tenta pôr à parte.
Quanto ao enquadramento da coisa... Um cartoon escrito num jornal Dinamarquês, para Dinamarqueses... Onde tanto se caricaturiza Maomé como Jesus Cristo... Será ir escarrar à porta do vizinho?
Acho que por estes dias - a globalização e tal -, gente mal intencionada (ou intencionada em exacerbar paixões) há-de sempre arranjar no mundo ocidental (falo deste por causa da tal da liberdade de expressão), há-de sempre arranjar escrevi argumentos para se sentir ofendido e assim colorir as palestras de sexta-feira. E vice-versa, mas ao Sábado e ao Domingo - a tal selvajaria...
Tendo dúvidas convém limitar-lhes os horizontes, mas esse nem é barrete que o JMF deva enfiar.
Um abraço e bom fim de semana!
Excelente. O mau tempo fez uma contratação de luxo.
E eu a pensar que o JMF era o José Manuel Fernandes!
É isso... gostei da provocação. Também não se devia aquecer a sopa para além do ponto "morno", acabar com o 8 e o 80, do 7 e do 79 passava-se directamente para o 9 e 81 respectivamente. Qualquer opinião publicada, mais agressiva, sobre tudo o que não fosse igual a nós, poderia ser vista como uma declaração de guerra... aliás, acabem já com as piadas sobre os alentejanos.
"Olho por olho, dente por dente" seria a máxima que caracterizava as relações entre vizinhos... acabando inevitavelmente tudo ou cego ou desdentado.
Mas o que nos vale são os escarros que penduramos na parede para condizer com o sofá.
Parabéns pelas contratações de inverno.
Com o Mozilla só se consegue ouvir a música de Mozart, que automaticamente dispara, já não posso mais...
RGS
Concordo com o que disse o rui_mcb.
De facto nós não podemos radicalizar as coisas quando o cartoon foi sobre Maomé porque poderia ter sido sobre jesus ou outra qualquer figura.
O radicalismo islâmico que não tolera diferenças é que não aceita a crítica.
De facto, se formos a ver todos os grupos radicais islâmicos dizem actuar em nome do corão e do islamismos, ou seja, em nome de Maomé.
Os islâmicos para poderem criticar a Dinarmarca, têm que primeiro repudiar o terrorimo e isso não acontce.
com o medeiros ferreira e o joão morgado fernandes, o canil parece a internacional socialista
se não o tivessemos já feito, diria que o JMF devia ser já contratado!
PS: valha-nos o martim, para não fazer de nós o núcleo blogosférico da internacional socialista.
O comentário mais sábio que li nos blogs. A moderação parece ter saído de moda, hélas. Quem provoca, nunca teve árabes por vizinhos. Eu já: sei a que ponto devo ou não dar opiniões sobre religião... As maiorias cometem horrendos equívocos, com a liberdade a todo o preço. Era só questão de estarem quietinhos. Acabam de, ao publicar os insanes rabiscos, provocar a ira! É como pontapear um vespeiro: estão a lidar com RADICAIS, por amor de Deus! Esta gente da liberdade seja a que preço for viu demasiados filmes americanos, não trabalha, de certeza, em Embaixadas nem tem família que agora terá de fugir para manter-se viva. A sobriedade nunca esteve a mais em momentos históricos como este: por isso se inventou a diplomacia! Há que encontrar uma forma para que todos ocupem os lugares sociais a que têm direito, com os seus nichos de religião, de costumes, há que ceder, quando se está em quase-guerra... Farão ideia os provocadores profissionais das mortes que causarão com as suas imbecilidades carnavalescas? Quem provoca com base em religião - sobretudo a muçulmana - não faz a mínima ideia do seu lugar no planeta. Infelizmente, outros pagarão com sangue: o seu...
Inês
Azimutes
..por aquilo que li no post da Inês (azimutes), não podemos, ..não devemos , e...nem sequer pensar o contrário , às opiniões, crenças ou não, ou mesmo fazer um comentário menos abonatório em relação aos muçulmanos, ou áqueles "radicais" da religião...por favor!
De facto , é isso que tem estado a suceder..criando-se um clima de terror e de insegurança na sociedade ocidental.Toda esta insegurança, começaram a aparecer depois dos atentados em N.York, Madrid e Londres, onde...através da arma infame do "Terrorismo", os muçulmanos,começaram a pôr em causa aquilo que qualquer sociedade mais "avançada"(ocidentais) teme...o sentimento de Insegurança!
Está a chegar o momento de se terem que adoptar medidas mais radicais por parte do ocidente, pois ..o simples facto de queimarem uma bandeira de um país..é já de si um acto Hediondo.
Talvez tenhamos que juntar todos os muçulmanos em Meca...e dar-lhes um banho de NAPALM..
Ditado Popular : " para grandes males, grandes remédios"
Kaiser
kaiser, is that you?!? credo, nem te reconheço!
Ora pois com certeza, Kaiser. Isso é também o que penso, viva a fúria, somos gente ou somos ratos?... Salvo com excepçõezinhas como esta: parte do mundo islâmico radical está já a ferro e fogo. Admiro a coragem e imagino-me em manifestações de tipo pacífico (ou nem por isso - sou corajosíssima - dependeria das circunstâncias, ah, tudo depende de circunstâncias neste vida, hélas!, imagino-me, mesmo, volvida num monstro sanguinário, sabe lá como eu sou, ah?), mas... Mas...
a minha verdadeira vénia nunca irá para a fúria. Lembra-se da Diplomacia? Arte de sábios! Manter a calma, assentar a poeira. A raiva pela raiva obnubila, engana, cega. Ódio só gera ódio igual ou pior. Chamam-lhe "espiral de violência". É-se arrastado. E depois?
E depois...?
E depois....?
O que sobra da fúria? Escolher o mal menor é caminho de sabedoria.
Tem amigos, família? Filhos, quiçá, sobrinhos, netos? A liberdade de expressão sobreviverá: uma vida não se devolve (estou farta de escrever isto hoje, mas alguém LÊ ou só se treslê?). A questão é, ainda - e perdoe-me por ser tão directa - se afirmaria com tanta convicção a sua revolta com outras vidas ao encargo? É fácil falar do conforto das poltronas, face ao pc, mas já se imaginou num mundo onde reagíssemos como (os) radicais? Acredite: não há saída. As guerras não duram só o que duram: várias gerações as pagam. Estaria disposto a lançar fogo a vespas quando já estão exasperadas e fora do ninho? Pense melhor. E viver em zonas do mundo onde aquela "malta" em fúria (refiro-me aos radicais, não aos muçulmanos em geral, como é óbvio), saltando ao mesmo ritmo, grita ensurdecedoramente e promete o pior? E ensina meninos para a morte mais ignóbil? Hein? E que tal as nossas crianças verem-nos com a fúria acesa nos olhos? É disto que falo. Temos responsabilidades para com as gerações que nos pedem que paremos, analisemos, escolhamos o mal menor. Depois, TRAU!, desanquem-se aqueles estronços com sanções, mas só quando se sentir que é SEGURO para outras centenas de vidas (inclusivamente, as dos filhos deles)...
(Ufa! Retiro-me. Estou doentita - não pareço, pois não? eh eh - e amanhã, tenho 4 blocos de 90 minutos de aula... sem voz, glup!)
Gosto deste blog, raios!
Com moderação, tudo se faz. A guerra é, será sempre um último recurso. Dela, não há regresso. Todos, TODOS perdem. Não lhe parece, Kaiser?...
Abraços.
Inês
P.S. Andar nos blogs desde Maio de 2003 gastou-me energias para este tipo de debates. Este tem-me feito voltar a comentários porque sinto que me afecta, mas enfim (fartinha)... :oP
A minha frase de sempre: todos, TODOS os humanos já foram bebés ao colo da mãe. Isso ajuda-me. E a si?
:0)
...sim..concordo consigo Inês !"Violência gera ...violência"..
Mas até quando teremos nós, Ocidentais, que suportar "as humilhações", que estes radicais nos estão a infligir??
Somos tolerantes...mas não tontos!
Hoje morreu um padre na Turquia...incendiaram uns consulados..e fizeram mais umas manifestações com milhares de pessoas!Estes "gajos", não têm que trabalhar??...ou estão à espera que alguma ONG, lhes envie o necessário para sobreviver?..ou a UE..ou outro qualquer bom samaritano.
tolero..mas só até um ponto! Quando entrarem nos meus domínios..concerteza que os vou defender.
Kaiser
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