Brasil
Conheci o Brasil em 1993. Fui com o meu pai e com a minha mãe. Comprámos uns bilhetes da Varig que davam direito a cinco viagens dentro da viagem. Em Salvador, conheci um libanês que durante anos me enviou cartões de Natal. Era a maneira dele agradecer a sua própria hospitalidade baiana. Moreno-índio, como sou, sempre me senti brasileiro no Brasil. Uma vez entrei com o meu pai na casa-museu Jorge Amado. A senhora que estava à porta disse: "Que gracinha! O pai é português, o filho é baiano". Também me senti brasileiro nas rodas de samba dos ricos no Jardim Europa em S. Paulo (a primeira vez que vi uma cascata dentro de casa); enquanto via as igrejas barrocas de Ouro Preto e as estátuas do Aleijadinho em Congonhas; a jogar futebol nas praias cheias de futebol, sentado a ver o mar em Búzios, a atravessar um rio nas barcas que levam carros ou a mijar no meio da selva. A verdade é que já era brasileiro antes de ir ao Brasil. Era brasileiro do Pedro Bala e da Dora; do quindim do Comida de Santo em Lisboa; do João Cabral; do Álvares Cabral; do Caetano, Gilberto e Gil; do D. Casmurro, do Rubem, do Raduan, do Ubaldo; da Gabriela, do Chico Chicão; do D. Pedro e da Carlota Joaquina.
Nos últimos anos, descobri o Nordeste e continuei a sentir-me brasileiro. Fosse em cima da duna de Jericoaquara; num bordel semi-abandonado na vila fantasma do Pecém; no teatro municipal de Fortaleza; no gigantesco forró do Vaqueiro ou a namorar debaixo do pé de embondeiro daquela vila de casas em terracota de que já não me lembro o nome.
E é por tudo isto, e por também já ter feito a curva do ó no bondinho que leva ao Cristo Rei (a gente faz a curva, vê a união da baía de Guanabara e do Atlântico e diz óóó), que eu não consigo entender quem não gosta do Carnaval do Rio. Já para não falar dos inimigos de Luana.
(actualizado)
8 Comments:
Odeio Carnaval e o do Rio – de que invejo o calor, aquele calor afrodisíaco que se cola a pela, - não escapa, mas adorei esta posta. Muito.
E eu já estive a ver uns sites de viagens, fiquei cheia de vontade de ir passar uma quinzena a Jericoaquara...
Estou só a lixar-te o juizo máquina zero!
Há sempre uma estória que explica as nossas preferências...
:))
Eu fascina-me mais a América Latina!!!
O fascínio português pelo Brasil... mas falta o vice-versa. Sempre que encontramos brasileiros, que não tenham vindo cá vender novelas, fazem questão de explicar que "lá no Braziu ê diferentche, viu", que o mesmo é dizer, lá é que é bom.
Este fenómeno descompensado das relações Portugal-Brasil, deve ter raízes históricas complexas, ou então talvez os brasileiros apenas preferissem terem sido colonizados por espanhois ou por ingleses... de qualquer modo, pelo menos neste campo, parece que o Brasil não assume a sua identidade.
E nós, uma posição digna na história do Brasil.
identifiquei-me bastante com este post. Já viagei por vários sítios do mundo e devo dizer que gosto particularmente do Brasil e dentro do Brasil particularmente o carnaval do rio...
Desculpem-me que diga : é a p...da loucura
Felicidades para o blog
sou brasileiro e estou em um tour pela europa de alguns meses e devo confessar que com este post me senti um pouco perto de casa. Nao que nao esteja gostando da viagem (estou amando)...mas quando se e estrangeiro, principalmente na europa, onde todos sempre te lembram disso, nos damos coisas de coisas que compoem a nossa identidade e que no dia a dia nao percebemos. Talvez por isso brasileiros sempre dizes "que la e diferente"....
eu sou brasileira
eu moro em são paulo (sim sim, existe uma cidade chamada são paulo, que fica no brasil e não tem praia, mas é a mais rica da américa latina).
eu adoro portugal, mas tenho conhecimento de turista, assim como vcs tem conhecimento de turista sobre o brasil (a.k.a. praia, mulheres,bossa nova, mulatas...)
...e além disso, não tem como comparar o país dos outros, é complicado...talvez seja por isso que a gente fala: no brasil é diferentchi!!
beijos
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