Amputados
Há uns meses escrevi uma reportagem sobre o jogo da fase de qualificação que deu a passagem de Angola ao Mundial da Alemanha. A coisa que mais chamou a minha atenção durante o jogo a que assisti no Parque das Nações foi a entrada de Mantorras no campo: os angolanos pareciam festejar um golo. Também reflecti na altura que não era para menos: afinal, Mantorras é um filho da pobreza angolana e, mais do que todos os outros jogadores e fruto da lesão que quase o incapacitou, é o símbolo da revolta contra o destino do país - não esqueçam que Angola tem milhares de amputados. Ouvi hoje que Mantorras, que é demasiado emotivo, demasiado orgulhoso, demasiado angolano e demasiado preto, pondera não ir ao Mundial por divergências com o seleccionador. O mínimo que me apetece dizer é que, se esta mina explodir, a minha segunda selecção vai apresentar-se amputada. De alma.
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