Magia
Estava aqui a pensar, penso nisto quase todos os dias, nos passageiros do avião com o trem de aterragem estragado que estavam dento do avião a ver televisão e que, de repente, viram que era o seu avião que estava a ser filmado e que podiam morrer dentro de poucos minutos. Não morreram, felizmente, mas a história não me sai da cabeça. Até porque há poucos dias voltei a ler as Outras Inquirições do Borges e descobri (não me lembrava de uma linha) lá uma história absolutamente fantástica sobre a magia do Quixote. Diz o escritor argentino que num episódio do D. Quixote, passado na biblioteca, um dos livros consultados é a Galanteia de Cervantes. O barbeiro que consulta o livro diz que "tem um pouco de boa invenção, propõe alguma coisa e não diz nada". Ou seja, e como diz Borges, "O barbeiro, sonho de Cervantes ou forma de sonho de Cervantes, julga Cervantes...." Outros exemplos são dados por Borges: Shakeaspeare "que inclui no cenário de Hamlet outro cenário, onde se representa uma tragédia, que é mais ou menos a de Hamlet"; a 602ª história das Mil e uma Noites, fábula onde "o rei ouve da boca da raínha a sua própria história"
Eu que sempre fui fascinado por estas coisas (o Luís Carmelo ensinou-me um conceito que correspondia a este fenómenos das janelas dentro das janelas mas eu não me consigo lembrar dele) fiquei siderado com a conclusão argentina: "Tais inversões sugerem que se os caracteres de uma ficção podem ser leitores ou espectadores, nós, seus leitores ou espectadores, podemos ser fictícios". Está alguém aí?
Eu que sempre fui fascinado por estas coisas (o Luís Carmelo ensinou-me um conceito que correspondia a este fenómenos das janelas dentro das janelas mas eu não me consigo lembrar dele) fiquei siderado com a conclusão argentina: "Tais inversões sugerem que se os caracteres de uma ficção podem ser leitores ou espectadores, nós, seus leitores ou espectadores, podemos ser fictícios". Está alguém aí?
11 Comments:
Eu não sei se isto que eu vou escrever tem alguma coisa a ver com a tua posta (já a li três vezes e até fui buscar os óculos). Mas eu penso nisto quase todos os dias: e se nós somos o sonho de alguém? E se esse alguém está quase a acordar com o som de um despertador, ou do gato que está a raspar na porta pedindo o pequeno almoço?
Dia
Ó Chico, vai ao teu mail e confirma o jantar de natal
Nesse caso, sugiro-lhe este
livro. Vai adorar.
"...era como ler um texto que eu tivesse mesmo escrito, porém com as palavras deslocadas. Era como ler uma vida paralela à minha, e ao falar na primeira pessoa, por um personagem paralelo a mim, eu gaguejava. Mas depois que aprendi a tomar distância do eu do livro, minha leitura fluiu. Por ser preciso o relato e límpido o estilo, eu já não hesitava em narrar passo a passo a existência tortuosa daquele eu."
Chico Buarque, Budapeste.
E isto tudo deu-me vontede de reler Ficcões, de Borges.
Nos últimos dias sinto que estou a viver a vida de outra pessoa, num argumento de série Z, de um Deus cruel e com um grande sentido de humor. Percebo o que a tua 'posta'...
Morremos, Dia?
fta
O jantar está confirmado. Lá estarei, lindos!
Podemos ser um daqueles sonhos recorrentes e voltar (o que é que fazemos entretanto é que é uma boa questão também...)
E estou solidária com o comentador que diz que os últimos dias são um filme de série Z.
Dia
Obrigada pela solidariedade, mas sinceramente preferia que alguém me indicasse a porta de saída.
C.
Já leste "City of Glass", The New York Trilogy, Paul Auster? Fabuloso no jogo de espelhos.
E que tal isto: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/artes/imagens/im_picasso/velazquez_meninas.jpg
http://www.revista.art.br/
site-numero-03/trabalhos/
artigo1/image001.jpg
Não consigo pôr o link completo. Teve de ser assim, mas o que queria mostrar é o quadro "As meninas" do Velasquez.
Manda-me o mapa, se encontrares a saída entretanto...
Dia
(Word verification interessante o que me calhou: QFRIO)
Enviar um comentário
<< Home