terça-feira, dezembro 06, 2005

Jornalismo

Ontem o João disse-me uma coisa que é muito verdadeira. Os jornais portugueses estão cada vez mais chatos e já não há pachorra para os ler. Leio a revista do Sunday Times e tenho um artigo sobre sobreviventes dos atentados de Londres escrito na primeira pessoa do singular. Tenho um perfil do actor que faz o papel de um cowboy homofóbico que se apaixona por outro cowboy no último filme de Ang Lee. Tenho um irmão a falar de uma irmã e uma irmã a falar de um irmão. Tenho uma entrevista corrida com Tom Wolfe e um dia na vida de uma heroína que salva raparigas menores de bordeis no Cambodja. Tenho ainda opinião de Andrew Sullivan (um dos melhores bloggers do mundo), uma espécie de ensaio sobre o filho do milionário Jimmy Goldsmith (tornou-se um dos maiores activistas contra o nuclear) e reportagens sobre soldados criança do Uganda e gueixas em Kioto. Repito: leios os jornais portugueses e sinto-me profundamente aborrecido. Adaptando uma frase do Wolf: "Eu na verdade não sou politico. Nunca quis fazer a cobertura da política nos EUA. É tão aborrecido, mesmo com Bush e tudo o resto.O governo dos EUA é como um comboio, está numa linha e não pode sair dali para nenhum outro lado. As pessoas à esquerda gritam para o comboio e as de direita gritam para o comboio - o comboio não pode fazer rigorosamente nada, continua a andar na linha. Nada pode realmente mudar, logo é chato". São as pessoas que fazem o jornalismo, não é?