quinta-feira, maio 26, 2005

As Medidas

Ouço bater palmas. Corajoso é o adjectivo mais soft para caracterizar Sócrates e o seu conjunto de medidas.Serei eu que estou a ver mal? As medidas são, no essencial positivas, é certo, mas coragem, arrojo?! Francamente, perante um défice de 6,8 o homem não está nem mais nem menos que a cumprir o seu dever. E talvez o esteja mesmo a fazer mais para o lado do menos que para o lado do mais.

Primeiro ponto: violar, letra por letra, solenes promessas eleitorais, lança um manto de descrédito sobre a sua palavra mas, sobretudo, sobre a de todos os políticos. Quem acreditará no futuro quando ouvir um candidato a primeiro-ministro garantir que não aumenta (ou que mantém) os impostos? Quem conterá a gargalhada? Não se pode elogiar a repetição do comportamento de Durão, letra por letra, há três anos.
E a justificação da surpresa não colhe. Em primeiro lugar, ele (Sócrates) sabia que o défice estava por estes números. Em segundo, mesmo que não soubesse, isso não o iliba de responsabilidades. Tomemos esta possibilidade como boa: então ele não sabia o verdadeiro estado das contas públicas e comprometeu, ainda assim, a sua palavra com uma não subida dos impostos?! Irresponsabilidade é o mínimo que se pode dizer.

Segunda nota: Sendo certo que as medidas são de aperto e se impunham, a verdade é que nada daquilo vai fazer, por um lado, diminuir o peso brutal do Estado na economia nacional nem, por outro, fazer reduzir a nossa paquidérmica Função Pública. E isto seria verdadeiramente essencial.
Mesmo a promessa de só entrar um funcionário por cada dois que saem acaba por perder eficácia com as medidas de ontem. Pois se a idade da reforma aumenta, serão menos os funcionários a deixar o lugar nos próximos anos. Ou seja, a Administração Pública vai demorar ainda mais tempo a emagrecer.

Serei eu que estou a ver mal?

2 Comments:

Blogger AA said...

Muito bem.

2:19 da tarde  
Blogger Unknown said...

Algures em 2002, Cavaco Silva dizia que a única solução para a Administração Pública era deixar morrer os funcionários, pois mesmo depois de aposentados continuavam a receber as reformas...

Acontece que quem engordou a dita cuja foi o PPD/PSD ao longo dos muitos anos em que foi gerindo e alaranjando a coisa pública(ininterruptamente desde 1979 até 1995, lembram-se?!), de tal forma que perderam o conto aos funcionários, agentes e afins...

Por isso, vai ser difícil dar a volta aos números, embora seja possível dar-lhes meios para trabalharem melhor e aumentarem os níveis de produtividade. Contudo, o principal é devolver-lhes a motivação perdida por críticas muitas vezes infundadas e tantas vezes imerecidas!

11:21 da tarde  

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